Among Us é um jogo cooperativo entre 4–10 jogadores que têm como objetivo a cooperação entre os jogadores para manter a espação espacial funcionando enquanto existem 1–3 jogadores que vão fazer de tudo para sabotar a estação espacial e assassinar os outros. Então funciona assim, no início é mostrado sua função dentro da estação (crewmate ou impostor) e você tem que cumprir as tarefas e cooperar para o funcionamento da mesma ou você tem que sabotar tudo e assassinar seus colegas, respectivamente.
Sempre que alguém morre e outro jogador reporta que viu um corpo morto no chão, começa um ambiente de insegurança e não confiança entre todos os jogadores onde eles tem que acusar quem fez tal ato ou convencer os outros de que não foram eles que comentaram o assassinato.
Toda essa premissa do jogo me lembrou muito minhas aulas de Pensamento Político Ocidental. Portanto, através desse texto, eu vou tentar (de alguma forma) analisar esse jogo, que tem sido um sucesso atual, através da primeira categoria hobbesiana de análise.
Hobbes é um grande exemplo de um homem típico da revolução científica do Século XVII e influenciado bastante pelas ideias cartesianas.
Sua indagação fundamental era “Por que os homens se juntam?”. De acordo com Aristóteles (a quem Hobbes recorreu para tentar responder essa pergunta), o homens se juntam pois existe a philia (elemento entre os homens que promove a união) que faz com que os homens se juntem o tempo todo. Entretanto, Hobbes discorda dessa resposta e acredita que não seja isso que faz com que os homens se juntem.
Hobbes começa a observar a história natural das abelhas e formigas. Segundo ele, elas tem a cultura do bem comum, enquanto os homens não tem essa cultura, o homem não desenvolve o bem comum, logo o homem não seria abelha e nem formiga, seria um lobo. “O homem é o lobo do homem”
Mas por qual razão os homens seriam dessa forma? De acordo com Hobbes, os homens sem a noção de bem comum, olham a si mesmos como ameaças. Se os homens não tem o bem comum, eles tem a propriedade que gera cobiça e inveja. Em nome da propriedade, os homens podem matar. Os homens desejam aquilo que os outros homens têm. Isso tudo, faz com que o mundo entorno dos homens seja um mundo atravessado pelo medo da morte violenta (conceito essencial em Hobbes). O homem mata em nome do medo da morte violenta. “Bellum Omina Contra Omnes” (“A guerra de todos contra todos”).
Nisso, chegamos na primeira categoria de análise Hobessiana, como o mundo seria naturalmente — Estado de Natureza. O Estado de Natureza é um momento onde não existe uma ordem jurídica, existe uma ausência de poder e caos.
Após essa breve introdução, não fica difícil relacionar o jogo Among Us com o Estado de Natureza proposto por Thomas Hobbes, onde dentro de todos os jogadores, existem aqueles que não acreditam no bem comum (impostores) enquanto todos os outros olham para a si mesmos como ameaças por não saberem a real identidade que carregam. Logo, essa ausência de bem comum faz com que o mundo dos homens seja um mundo inseguro onde todos são uma ameaça e você não pode simplesmente sair confiando nos outros ao seu redor. E bem, os impostores, com medo da morte violenta ou melhor dizendo, com medo de serem expulsos da nave, eles matam e metem para se manter no meio desse Estado Natural, pois o medo os configura.
No fim, dentro daquela pequena estação espacial, existe um pequeno grupo de homens onde não habita uma ordem jurídica, não existe um poder central e todas as ações lá dentro de expulsão são baseadas nas escolhas individuais e morais de cada um dos tripulantes.
Esse texto foi uma pequena reflexiãozinha tentando trazer uma lente teórica para um jogo atual e bem divertido. Espero que tenham gostado, lembrando que não precisam concordar com as teorias de Hobbes (eu mesmo não concordo), pois elas foram simplesmente uma ferramenta para análise. Baixem Among Us para passar o dia, é muito divertido jogar com os amigos e tentar descobrir quem está mentindo e quem são os impostores!!
